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Entrevista de Fidel que fala sobre a universidade cubana

Posted: September 8th, 2006 | Author: | Filed under: Textos sobre a universidade na América Latina | Comments Off on Entrevista de Fidel que fala sobre a universidade cubana

A
globalização neoliberal

por
Fidel Castro
entrevistado por Ignacio Ramonet

Ramonet
– Você acredita que a globalização está
destruindo até o próprio capitalismo?
Fidel –
Hoje
não há capitalismo, não há concorrência.
Hoje o que há é o monopólio em todos os grandes
setores. Há algumas concorrências entre vários
países na produção de televisores ou
computadores, até automóveis o Banco Mundial os fez
produzir, mas é que o capitalismo já não existe
mais. Quinhentas empresas globais dominam hoje 80 por cento da
economia mundial. Os preços não são
competitivos, veja os preços a que se vendem, por exemplo, os
medicamentos contra a SIDA… Os medicamentos constituem um dos mais
abusivos, extravagantes e exploradores ramos econômicos do
mundo; o medicamento que vendem às pessoas vale, em muitos
casos, dez vezes os custos de produção.

A
publicidade praticamente determina o que se vende e o que não
se vende, quem não tem muito dinheiro não pode fazer
nenhum tipo de publicidade para seus produtos, ainda que sejam
excelentes. Depois da última chacina mundial na década
de 1940, prometeram-nos um mundo de paz, a diminuição
da distância entre ricos e pobres e que os mais desenvolvidos
ajudariam os menos desenvolvidos. Tudo não passou de uma
enorme falsidade. Impuseram-nos uma ordem mundial que não se
pode sustentar nem suportar. O mundo está sendo conduzido para
um beco sem saída. Nenhuma daquelas categorias em que
acreditávamos que se baseava o capitalismo existe mais; não
existe, portanto, a teoria que os Chicago Boys ensinam às
pessoas. E, por outro lado, a teoria e a prática do socialismo
ainda estão por ser desenvolvidas e escritas.

Ramonet
– Você me disse em outra ocasião que já não
havia "modelo" em matéria política e que,
atualmente, ninguém sabia muito bem o que o conceito de
socialismo significava. Você me contou que, em uma reunião
do Fórum de São Paulo que se realizou em Havana, e que
reuniu todas as esquerdas da América Latina, foi necessário
ter cautela para não pronunciar a palavra "socialismo"
porque é uma palavra que "divide".
Fidel –
Veja
só, o que é o marxismo? O que é o socialismo?
Isso não está bem definido. Em primeiro lugar, a única
economia política que existe é a capitalista; mas a
capitalista de Adam Smith. Então andamos fazendo socialismo
muitas vezes com as categorias adotadas do capitalismo, o que é
uma das grandes preocupações que temos. Porque se
utilizarmos as categorias do capitalismo como instrumento na
construção do socialismo, acaba obrigando todas as
empresas a competir entre si, surgem empresas desonestas, piratas,
que se dedicam a comprar aqui e acolá. Seria necessário
fazer um estudo bem profundo. Uma vez Che criou algumas polêmicas
sobre as conseqüências do uso do financiamento
orçamentário, diante do uso do autofinanciamento. Ele,
como ministro, estudara a organização de alguns grandes
monopólios e viu que eles utilizavam orçamentos.

Na
União Soviética se empregava outro método: o
autofinanciamento, e ele tinha fortes convicções sobre
isso. Marx fez apenas uma breve tentativa na Crítica
do programa de Gotha
de
definir como seria o socialismo, porque era um homem muito sábio,
muito inteligente e realista para imaginar que se poderia escrever
uma utopia sobre como seria o socialismo. O problema foi a
interpretação das doutrinas, e foram feitas muitas. Por
isso os progressistas permaneceram tanto tempo divididos, e as
polêmicas entre anarquistas e socialistas, os problemas depois
da Revolução Bolchevique de 1917 entre trotskistas e
stalinistas ou, digamos, para os partidários daquelas grandes
polêmicas que foram geradas, a divisão ideológica
entre os dois grandes dirigentes. O mais intelectual dos dois era,
sem dúvida, Trotski. Stalin foi um dirigente mais de ordem
prática, como conspirador, não foi um teórico e,
uma vez ou outra, depois, quis agir como teórico… Lembro-me
de uns livretos que eram distribuídos em que Stalin explicava
o que queria dizer o materialismo dialético, e usava o exemplo
da água… Quiseram transformar Stalin em um teórico.

Ele era um organizador, de grande capacidade, penso que era
um revolucionário, não acredito que alguma vez tenha
estado a serviço do czar. Depois cometeu os erros que todos
conhecemos, a repressão, as "limpezas" e tudo
aquilo. Lênin era o gênio, morreu relativamente jovem,
mas teria podido… Nem sempre a teoria ajuda. Na época da
construção do Estado socialista, Lênin aplicou
desesperadamente, a partir de 1921, a NEP [Nóvaya
Economícheskaya Polítika], a nova política
econômica Já falamos disso, e eu disse que o próprio
Che não simpatizava com a NEP. Mas Lênin teve uma idéia
verdadeiramente engenhosa: construir o capitalismo sob a ditadura do
proletariado. Lembre-se de que as grandes potências queriam
destruir a Revolução Bolchevique, o mundo todo a
atacou.

Não se pode esquecer da história da
destruição que fizeram naquele país
subdesenvolvido; a Rússia era o país menos
industrializado da Europa, e Lênin, além disso,
acreditava, seguindo a linha de Marx, que não podia haver
revolução apenas em um país e que a revolução
tinha de ser simultânea em muitos lugares, a partir de um
grande desenvolvimento das forças produtivas. Por isso o
grande dilema, depois que se estabeleceu essa primeira revolução,
foi seguir ou não em frente. Quando o movimento revolucionário
fracassou no resto da Europa, não restou a Lênin mais
que uma opção: construir o socialismo em um só
país, a Rússia. Imagine a construção do
socialismo em um país com 80 por cento de analfabetos e em uma
situação na qual teriam de combater todos os que os
atacassem, e na qual os principais intelectuais, todos os que tinham
mais conhecimentos, se retiraram ou foram fuzilados. Percebe?

Ramonet
– Foi uma época terrível, com intensos debates.
Fidel
Houve
tantas polêmicas. Eu, por exemplo, vejo na União
Soviética uma perda de tempo absurda nos dez anos que
aplicaram a NEP sem sequer tentar cooperativizar pouco a pouco os
camponeses. Como a produção individual deu o máximo
que podia dar naquelas condições, quiseram fazer uma
coletivização forçada. Perceba que nós
nunca… Em Cuba sempre houve, no campo, mais de 100 mil
proprietários individuais. A primeira coisa que fizemos, em
1959, foi conceder a propriedade aos que eram arrendatários e
trabalhadores precários.

NÃO
HÁ SOLUÇÕES LOCAIS PORQUE A DOMINAÇÃO
É GLOBAL

Ramonet
– Você considera que estamos atualmente em um momento de grande
confusão ideológica?
Fidel –
Sim.
Há na ideologia uma confusão extraordinária. O
mundo em que vivemos é muito diferente do de antes. Há
muitos problemas que os grandes pensadores políticos e sociais
não podiam, em tão longo prazo, prever, ainda que seus
conhecimentos tenham sido decisivos para nos transformar em pessoas
com idéias revolucionárias. As pessoas lutam contra o
subdesenvolvimento, as doenças, o analfabetismo, mas o que se
pode chamar de solução global dos problemas da
humanidade ainda não foi encontrada. Os problemas da
humanidade não têm solução em níveis
nacionais porque a dominação se dá hoje em
níveis globais: a chamada globalização
neoliberal.

A OMC [Organização Mundial do
Comércio], o Banco Mundial, o Fundo Monetário
Internacional estabelecem as regras de uma situação de
dominação e exploração de fato, que pode
ser escravista, feudal. E muita gente está procurando maneiras
de se livrar dessa dominação. Você é
testemunha de quantas pessoas foram ao Fórum Social Mundial de
Porto Alegre ou de quantas foram a Bombaim em 2004. E nem sei quantos
artigos sobre a globalização liberal já li na
sua revista [Le
Monde Diplomatique].

Também
li artigos das publicações norte-americanas, das
inglesas, leio todas. Durante muitos anos nossos companheiros
selecionavam, de revistas como a sua, de revistas de centro, de
revistas de direita também, durante toda a semana, os artigos
fundamentais sobre os problemas econômicos. De forma que, sim,
podemos dizer que é muito difícil para as pessoas
entender os problemas, porque, na maioria dos países, não
recebem uma educação econômica, não
recebem uma educação histórica, não
recebem uma educação política.

Ramonet
– Contudo, você não tem a impressão de que a
globalização liberal recebeu golpes duros e já é
menos arrogante que há alguns anos?
Fidel –
Sim,
eu também tenho essa impressão, porque houve o caso da
Argentina, a vitória em maio de 2003 de Néstor
Kirchner, e a derrota do símbolo da globalização
neoliberal que houve ali, precisamente, nesse momento crítico,
de crise econômica internacional. E já não é
apenas uma crise no Sudeste Asiático, como a de 1997, é
uma crise mundial, mais a Guerra do Iraque, mais as conseqüências
de uma enorme dívida, mais o fatalismo de que o dinheiro fuja.
O problema é mundial, e por isso mundialmente também se
está formando uma consciência, e por isso será um
dia de glória esse dia em que outro mundo seja finalmente
possível. E observe que vem ganhando força essa frase
que acho que você mesmo propôs: "Um mundo melhor é
possível". Mas quando tivermos alcançado um mundo
melhor, que é possível, teremos de continuar repetindo:
um mundo melhor é possível. E tornar a repetir depois:
um mundo melhor é possível.

Porque sempre será
preciso melhorá-lo. Eu acredito nas idéias e acredito
na consciência, nos conhecimentos, na cultura e especialmente
na cultura política, tenho uma fé cega nisso. Nós
dedicamos muitos anos à formação de uma
consciência, e temos uma grande fé, digamos, na educação
e na cultura, sobretudo na cultura política. Vivemos em um
mundo carente de cultura política. Você deve saber
melhor que ninguém, porque lutou para semear uma cultura
política em meio a problemas tão complicados como a
nova ordem econômica, a globalização neoliberal.
O que se ensina, em quase todas as escolas do mundo, são
dogmas; até aqui se ensinaram dogmas.

Ramonet
– Você é sensível ao problema da proteção
do meio ambiente?
Fidel –

trinta anos não se falava do que hoje sabemos sobre esse tema.
Havia o Clube de Roma10, que reunia algumas pessoas que faziam
previsões e falavam de diferentes temas, eram criticados,
diziam que eram "utópicos", catastrofistas etc.
Foram os primeiros. E acho que isso não tem mais de trinta
anos. A questão ecológica foi-se desenvolvendo
verticalmente, a toda velocidade, no último quarto de século.
E talvez o verdadeiro drama esteja na ignorância sobre esses
riscos na qual vivemos durante tanto tempo.

Ramonet
– Você acredita que não se sabia, ou não se
queria saber, porque havia uma confiança cega na ciência
e na técnica?
Fidel –
Veja,
penso que a totalidade das pessoas que, 25 anos depois de terminada
em 1945 a Segunda Guerra Mundial, fazia uso da razão e sabia
ler e escrever, nunca escutou uma única palavra sobre a cega
marcha humana, inexorável e acelerada rumo à destruição
das bases naturais de sua própria vida. Nenhuma outra das
muitas gerações que precederam a atual conheceu o
amargo risco, nem sentiu sobre si uma responsabilidade tão
grande. Há apenas trinta anos, insisto, a humanidade não
tinha a menor consciência da grande tragédia. Na época
se acreditava que o único perigo de extinção
estava na quantidade gigantesca de armas nucleares prontas para ser
disparadas em questão de minutos.

Hoje, sem que no
entanto tenham cessado ameaças desse tipo, um perigo
adicional, aterrador e dantesco a ronda. Você mesmo só
deve ter ouvido falar da camada de ozônio e das mudanças
climáticas [1]
vários anos depois de se ter formado na universidade. São
muitos os problemas novos. Hoje se sabe que o petróleo, que
foi uma maravilha da natureza, e que levou 300 milhões de anos
para se formar, terá liquidadas as suas reservas comprovadas e
prováveis em apenas 150 anos…
[2]
Esse desastre é tão grande como o maior dos desastres
ecológicos, porque, se de repente faltar energia, todos os
automóveis do mundo vão parar. E ainda não
existe um substituto para o petróleo; já se chegou a
acreditar que seria a energia nuclear.

Aquelas mesmas pessoas
do Clube de Roma diziam que seriam necessários não sei
quantos milhares de centrais nucleares, e os territórios
contaminados já aterrorizavam, mas ainda incentivavam a
energia nuclear.

Ramonet
– A França pôde desenvolver sua indústria
nuclear, mas o Irã, por exemplo, hoje quer produzir
combustível nuclear, e os Estados Unidos não permitem,
originando uma crise mundial. Qual a sua opinião sobre essa
situação que se criou com o Irã?
Fidel –
O
Irã reclama seu direito de produzir combustível nuclear
como qualquer nação industrializada, e não quer
ser obrigado a destruir a reserva de uma matéria-prima que
serve não apenas como fonte energética, mas também
como fonte para produzir inúmeros produtos: fertilizantes,
têxteis e uma infinidade de materiais que hoje têm uso
universal. O império ameaça atacá-lo se produzir
esse combustível nuclear.
Combustível nuclear
não são armas nucleares, não são bombas
nucleares. Proibir um país de produzir o combustível do
futuro é como proibir alguém de explorar petróleo,
o combustível do presente e que está destinado a se
esgotar. Que país do mundo é proibido de produzir
combustível, carbono, gás, petróleo? Com mais de
70 milhões de habitantes, o Irã está-se
dedicando ao desenvolvimento industrial e considera com toda a razão
que é um grande crime comprometer suas reservas de gás
ou de petróleo para alimentar o potencial de milhares de
milhões de quilowatts-hora que requer, com a urgência de
um país de Terceiro Mundo, seu desenvolvimento industrial. O
império quer proibi-lo e o está ameaçando com
bombardeios.
Hoje [dezembro de 2005] já se discute na
esfera internacional o dia e a hora, ou se será o império
ou se utilizará o satélite israelense, do bombardeio
preventivo e de surpresa, como no Iraque, de centros de investigação
que procuram obter a tecnologia de produção do
combustível nuclear. E veremos o que vai acontecer se
resolverem bombardear o Irã.

Ramonet
– Vocês estão sendo acusados de ajudar o Irã com
tecnologia.
Fidel –
Sim,
fomos acusados. Acusam-nos de tudo, de estarmos colaborando com o
Irã, transferindo tecnologia com esse objetivo. E o que
estamos construindo, em sociedade com o Irã, é uma
fábrica de produtos anticancerígenos! Isso é o
que estamos fazendo. O Irã assinou o Tratado de
Não-Proliferação Nuclear, como fez Cuba. Nós
nunca pensamos em fabricar armas nucleares, porque não
precisamos delas. Mesmo sendo tecnicamente acessíveis, quanto
custaria produzi-las? E de que adianta produzir uma arma nuclear
diante de um inimigo que tem milhares de armas nucleares? Ninguém
deve ter direito a produzir armas nucleares. E menos ainda o
privilégio que o imperialismo assumiu de impor seu domínio
hegemônico aos países do Terceiro Mundo e de arrebatar
seus recursos naturais e suas matérias-primas.


os denunciamos várias vezes. E defenderemos a todo custo, em
todos os palanques do mundo, sem nenhum temor ou medo, o direito dos
povos de produzir combustível nuclear. Têm de acabar no
mundo a estupidez, os abusos, o império da força e do
terror, cada vez são mais povos que se rebelam e o império
não poderá sustentar o sistema infame que sustenta. Um
dia Salvador Allende falou de "mais cedo ou mais tarde",
pois acredito que mais cedo ou mais tarde esse império se
desintegrará.

Ramonet
– De certa forma, essa crise é uma primeira conseqüência
do esgotamento atual do petróleo e das mudanças que
isso está produzindo.
Fidel –
Sem
dúvida, porque 80 por cento do petróleo está
atualmente nas mãos de países do Terceiro Mundo, já
que os outros esgotaram o seu, entre eles os Estados Unidos, que
tinham imensas reservas de petróleo e gás. Mas essas
reservas vão durar apenas mais alguns anos
[3]
, motivo pelo qual estão procurando garantir a posse do
petróleo onde quer que seja e da forma que puderem.
Essa fonte energética, no entanto, como já vimos,
está-se esgotando, e daqui uns 25 ou 30 anos só
restará, para a produção em massa de
eletricidade além da solar, da eólica, da biomassa etc.
, uma fonte de energia fundamental: a nuclear. Porque ainda estamos
longe do dia em que o hidrogênio, mediante processos
tecnológicos muito incipientes, vai ser a fonte mais adequada
de combustível
[4]
, sem a qual a humanidade não poderá viver. Uma
humanidade que adquiriu determinado nível de desenvolvimento
técnico. Esse é um sério problema do presente.
Assim anda este mundo. Há uma série de problemas
ecológicos que nem sequer são conhecidos, as
catástrofes avançam uma a uma, e há desastres
maiores, como o câncer.

Ramonet
– Ou a SIDA.
Fidel –

25 anos, a SIDA não existia, e hoje há mais de 40
milhões de doentes ou infectados pelo vírus HIV da
SIDA. E os que possuem os melhores laboratórios estão
dedicados à terapêutica, não à prevenção,
não às vacinas, porque um tratamento sabemos muito bem
que é vendido a 10 mil dólares por ano, e que a cada
ano o doente tem de repetir, gera mais lucros. A medicina terapêutica
gera muito mais lucros do que a medicina preventiva.
E agora
também apareceu o vírus da pneumonia atípica, a
SARS [Síndrome Respiratória Aguda Grave], quando
ninguém esperava; ou o da febre do Nilo, que veio do noroeste
dos Estados Unidos, evidentemente trazido de algum lugar do mundo; ou
a famosa dengue, tão mencionada, que tem quatro formas
diferentes de vírus, e a combinação entre eles
dá lugar a complicadas doenças como a dengue
hemorrágica; e pode se alastrar o vírus da gripe
aviária e provocar uma epidemia terrível, inédita…
Todos esses problemas não eram conhecidos; hoje se tem
consciência de que há uma forte relação
entre todos esses temas: economia, indústria, demografia,
desenvolvimento, ecologia

Ramonet
– Você estabelece alguma relação entre a
globalização liberal e a aceleração da
destruição do meio ambiente?
Fidel –
Penso
que todo esforço para preservar o meio ambiente é
incompatível com o sistema econômico imposto ao mundo,
essa impiedosa globalização neoliberal, com as
imposições e condicionamentos com que o FMI sacrifica a
saúde, a educação e a segurança social de
milhares de milhões de pessoas. E com a forma cruel pela qual,
mediante a livre compra e venda de divisas entre as moedas fortes e
as fracas moedas do Terceiro Mundo, arrebatam deste fabulosas somas
todos os anos.
Em síntese, acredito que preservar o
meio ambiente é incompatível com a política da
OMC, concebida para que os países ricos possam invadir o mundo
com suas mercadorias sem restrição alguma, e para
liquidar o desenvolvimento industrial e agrícola dos países
pobres, sem outro futuro senão o de fornecer matérias-primas
e mão-de-obra barata; com a ALCA [Área de Livre
Comércio das Américas] e outros acordos de livre
comércio entre os tubarões e as sardinhas; com a
monstruosa dívida externa, que algumas vezes consome até
50 por cento dos orçamentos nacionais, absolutamente impagável
nas atuais circunstâncias; com o roubo de cérebros, o
monopólio quase total da propriedade intelectual e o uso
abusivo e desproporcional dos recursos naturais e energéticos
do planeta. A lista de injustiças seria interminável. O
abismo se aprofunda, o saque é maior

Ramonet
– Devemos desacreditar do ser humano? Ou ainda podemos conservar um
pouco de esperança na sua capacidade de deter a corrida para o
abismo?
Fidel –
Hoje
sabemos o que acontece. Do meu ponto de vista, não há
tarefa mais urgente do que criar uma consciência universal,
levar o problema à massa de milhares de milhões de
homens e mulheres de todas as idades, incluindo as crianças,
que habitam o planeta. As condições objetivas e os
sofrimentos de que padece a imensa maioria deles criam as condições
subjetivas para a tarefa de conscientização. Tudo está
associado: analfabetismo, desemprego, pobreza, fome, doenças,
falta de água potável, de moradias, de eletricidade;
desertificação, mudanças climáticas,
desaparecimento de áreas verdes, inundações,
ciclones, secas, erosão dos solos, biodegradação,
pragas e demais tragédias que você conhece bem. Que
resultados conseguimos desde a Cúpula do Rio em 1992? Quase
nenhum. Ao contrário. Enquanto o Protocolo de Quioto é
vítima de um arrogante boicote, as emissões de dióxido
de carbono, longe de diminuir, aumentaram 9 por cento; e as do país
mais poluidor, os Estados Unidos, em 18 por cento! Os mares e os rios
estão hoje mais envenenados do que em 1992; 15 milhões
de hectares de florestas são devastados a cada ano, quase
quatro vezes a superfície da Suíça. A sociedade
humana cometeu erros colossais e continua cometendo, mas estou
profundamente convencido de que o ser humano é capaz de
conceber as mais nobres idéias, conservar os mais generosos
sentimentos e, superando os poderosos instintos que a natureza lhe
impôs, é capaz de dar a vida pelo que sente e pelo que
pensa. Assim demonstraram muitas vezes ao longo da história.

Ramonet
– Quantos estudantes há em Cuba?
Fidel –
Atualmente
há mais de 500 mil estudantes em nossas universidades, de
todos os ramos da ciência, e que podem ser qualificados e
requalificados, podem passar de uma atividade para outra e serão
capazes de muitas coisas. Entre esses estudantes, mais de 90 mil eram
jovens que não tinham matrícula nem emprego, muitos
deles de origem humilde, que hoje estão obtendo excelentes
resultados nos estudos universitários. Existem já 958
universidades. Há 169 universidades municipais, do Ministério
de Educação Superior; há 84 universidades em
comunidades açucareiras; 18 em prisões, unidades de
ensino superior que têm centenas de matriculados em
licenciatura de estudos socioculturais. E isto é novidade:
universidades nas prisões.
Existem também 169
universidades de saúde pública, 1352 unidades de
clínica geral, unidades de saúde e bancos de sangue,
nos quais se estudam diferentes licenciaturas associadas à
saúde pública. E há quase 100 mil professores
entre titulares e assistentes. Muitas pessoas que faziam parte da
máquina burocrática das centrais açucareiras e
de outros lugares hoje estão dando aula, são
professores-assistentes. Entre ambos, estudantes e professores sem
mencionar os funcionários das universidades há em torno
de 600 mil.

Notas


1- Resistir.info abordou o mito das supostas mudanças
climáticas em
A
fabricação do pânico climático

e em
Aquecimento
global: uma impostura científica



2- O Comandante é excessivamente optimista. O prazo
mencionado deve ser reduzido em pelo menos dois terços.


3-
O pico da produção petrolífera nos Estados
Unidos verificou-se em 1971.


4- Trata-se de um equívoco
pois o hidrogénio não é uma fonte de energia e
sim um vector. É discutível que na produção
do hidrogénio o rácio da Energia Retornada sobre a
Energia Investida possa ser superior a um.